Trump discursa na ONU em 23 de setembro de 2025 — Foto: Shannon Stapleton/Reuters
Sem respaldo científico, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou a mudança climática de “a maior farsa já perpetrada contra o mundo” em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (23), em Nova York.
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Ele afirmou que o consenso científico foi “feito por pessoas estúpidas”, voltou a defender o carvão como fonte de energia e celebrou a saída dos EUA do Acordo de Paris, tratado internacional que estabelece metas globais para reduzir emissão de gases do efeito estufa.
As declarações contrastam com dados de organismos internacionais.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperatura média global 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais.
A Nasa, a agência espacial norte-americana, também aponta que a Terra esteve cerca de 1,47 °C mais quente no ano passado em relação ao final do século XIX.
Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, o discurso mostrou uma desconexão completa com a realidade.
"O discurso de Trump foi um delírio: inventou uma realidade particular onde carvão não polui e os EUA teriam pagado sozinhos pela mudança do clima. Não é preciso grande esforço para ver a desconexão, pois a realidade já desmente por si só", criticou a ambientalista.
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Pesquisas científicas mostram ainda que mais de 99% dos especialistas em clima concordam que o aquecimento global é provocado pela ação humana.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), esse processo é “inequívoco” e não tem precedentes em milhares de anos.
Entre as evidências estão o derretimento acelerado de geleiras, a redução histórica do gelo no Ártico e a elevação do nível do mar em ritmo cada vez mais rápido.
Além disso, as concentrações de dióxido de carbono (CO₂) chegaram a 422,5 partes por milhão em 2024 — 52% acima dos níveis da era pré-industrial.
As emissões globais de combustíveis fósseis também bateram recorde, alcançando 37,4 bilhões de toneladas no último ano.
Aliado a isso, especialistas também alertam que os impactos da crise já são visíveis em diversas partes do mundo.
Mais de 3 bilhões de pessoas vivem em áreas altamente vulneráveis às mudanças climáticas, segundo a ONU, e metade da população mundial enfrenta escassez severa de água por ao menos um mês por ano.
Eventos extremos, como ondas de calor, tempestades e secas, também vêm se tornando mais frequentes e intensos.
Trump discursa na 80ª Assembleia Geral da ONU
Ao atacar o Acordo de Paris, Trump revelou o quanto o acordo importa para economia real, diz Natalie Unterstell. "É justamente por isso que precisamos reafirmar fatos, valorizar a cooperação e não ceder espaço a narrativas que vivem de negar o óbvio”, acrescentou.
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ONU cobra compromissos mais claros para a COP30
Na véspera do discurso de Trump, o secretário-executivo da ONU para o Clima, Simon Stiell, se pronunciou em Nova York, durante a Climate Week, evento que ocorre paralelamente à Assembleia Geral.
Ele alertou que a 30ª Conferência do Clima (COP30), marcada para novembro em Belém (PA), será um teste para saber se a cooperação internacional ainda é capaz de gerar resultados concretos.
“Toda COP tem seus desafios", afirmou Stiell.
Em sua fala, o chefe da ONU para o Clima cobrou que os países apresentem novos planos para cortar emissões de gases do efeito estufa e que mostrem de forma clara como cada governo pretende contribuir para limitar o aquecimento global.
Esses planos nacionais (chamados tecnicamente de NDCs), são exigidos pelo Acordo de Paris e precisam ser atualizados regularmente.
Por isso, são vistos como a principal medida de transparência e cobrança internacional para frear a crise do clima.
Simon Stiell, chefe da ONU para o Clima, discursa em 10 de abril de 2024 no Chatham House, em Londres, alertando o G20 sobre os riscos econômicos da crise climática. — Foto: JUSTIN TALLIS/AFP
A União Europeia, por exemplo, decidiu que, em vez de anunciar já uma meta climática fechada para 2035, vai levar a Nova York nesta semana apenas uma carta de intenção, ou seja, um sinal político do que pretende fazer, que não tem força de compromisso.
O texto foi divulgado nesta semana e fala em reduzir as emissões entre 66,25% e 72,5% até 2035, em comparação aos níveis do bloco em 1990.
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, a opção pela “declaração de intenções” foi vista como uma forma de evitar o constrangimento de chegar de mãos vazias ao encontro convocado pelo secretário-geral da ONU justamente para que líderes apresentem suas novas metas.
No texto, Stiell destacou ainda a urgência de um roteiro financeiro robusto, capaz de mobilizar 1,3 trilhão de dólares por ano para apoiar principalmente os países mais pobres, que enfrentam os impactos mais severos da crise climática e têm menos recursos para se adaptar.
"Todos os olhos estarão voltados para a COP30. E o que ela deve fazer? Ela deve responder — ao estado das NDCs, ao roteiro para 1,3 trilhão de dólares anuais em financiamento acessível, aplicável com rapidez e escala, ao progresso feito e aonde a aceleração é mais necessária", acrescentou.
O secretário disse também que a conferência no Brasil não pode se limitar a declarações de intenção e que ela deve impulsionar uma implementação mais rápida e ampla, em todos os setores e economias, especialmente aqueles que ainda não estão considerando os riscos e as oportunidades climáticas.
[A COP30] deve mostrar que o multilateralismo climático continua entregando: com resultados fortes em todas as negociações.” — Simon Stiell, chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).Além disso, Stiell destacou que a COP30 precisa falar mais claramente à vida de bilhões de pessoas, mostrando que a ação climática não é apenas sobre números e acordos, mas sobre efeitos diretos no cotidiano.
“Ação climática ousada significa melhores empregos, padrões de vida mais altos, ar mais limpo, vidas mais saudáveis, comida segura, energia e transporte acessíveis. É isso que está em jogo”, declarou.
O chefe da ONU para o Clima lembrou ainda que, apesar das dificuldades, os encontros recentes já ajudaram a mudar o rumo do planeta.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu nesta segunda-feira (25) Lisa Cook, diretora do conselho de governadores do Federal Reserve (Fed). A medida inédita é vista como uma nova escalada dos ataques do republicano à independência do banco central norte-americano.
O presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (25) que a China precisa fornecer ímãs aos Estados Unidos ou ele terá de "cobrar uma tarifa de 200% ou algo parecido". A declaração foi feita em meio à disputa comercial e tecnológica entre os dois países.
3 de 3 Vista aérea do mercado do Ver-o-Peso, em Belém (PA), que será sede da COP30 em novembro. — Foto: Anderson Coelho/AFPVista aérea do mercado do Ver-o-Peso, em Belém (PA), que será sede da COP30 em novembro. — Foto: Anderson Coelho/AFP
“Sem a cooperação climática da ONU, estávamos indo para 5 ºC de aquecimento — um futuro impossível. Hoje estamos mais perto de 3 ºC. Ainda é alto demais — mas a curva está cedendo”, disse.
A meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais surgiu como um consenso científico e diplomático em 2015, com o Acordo de Paris.
Ela foi definida após uma série de estudos mostrarem que esse valor representava um “limite seguro” para evitar os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas – como secas intensas, colapso de ecossistemas, aumento extremo do nível do mar e impactos graves à saúde humana.
A lógica por trás desse número era clara: quanto menor o aquecimento, menores os riscos.
Relatórios recentes do IPCC (painel da ONU sobre clima) mostraram, contudo, que mesmo com 1,5°C, o planeta já enfrentaria perdas consideráveis, mas que esses impactos seriam muito piores com 2°C ou mais.
Dados mais recentes inclusive apontam que esse limite já está sendo superado.
Em 2024, o planeta atingiu a marca de 1,6°C de aquecimento e os cientistas avaliam é se isso foi um novo padrão ou apenas o registro pontual em um ano.
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